Quem era o líder e o último?

In "Correio do Minho" 28 Março

Quem assistiu ontem ao Vilaverdense-Ninense ficou algo confuso sobre quem é que era, afinal, o líder do campeonato e o aflito pela permanência na Divisão de Honra. No toque entre os extremos da tabela, o último deu ‘água pela barba’ ao primeiro, e se tivesse ganho, não era escândalo nenhum, pois teve a oportunidade mais flagrante.

Sedento de uma vitória catalizadora para alimentar o sonho do milagre na manutenção na Divisão de Honra, o Ninense apresentou-se ontem destemido e com a lição bem estudada em Vila Verde, a jogar olhos nos olhos com o líder do campeonato. E valha a verdade, fez muito mais que o (desinspirado) Vilaverdense na discussão pelos três pontos. O empate até nem interessava a nenhuma das equipas, mas embora moralizador para as batalhas futuras, por ter sido conquistado na casa do comandante, penalizou mais o Ninense, pois foi a equipa mais personalizada em campo, a que jogou melhor, mais tempo no meio campo adversário, mais posse de bola e, sobretudo, mais remates e a oportunidade mais flagrante de golo. Foi logo no primeiro minuto da segunda parte, onde Baptista, à boca da baliza e sem marcação, fez o mais difícil, que foi chutar para o lado da baliza, falhando inacreditavelmente a emenda triunfal, após um cruzamento genial da direita de Cesário.

Com um futebol rendilhado e objectivo, o Ninense, com um pouco mais de pragmatismo e eficácia, que o último lugar na classificação tira a qualquer equipa, podia ter ganho perfeitamente o jogo, perante um Vilaverdense amorfo, sem ideias e agressividade competitiva, completamente manietado pela estratégia montada por Salgueiro, e bem interpretada pelos seus jogadores, só falhando no aspecto fundamental: a finalização. Na defesa da honra do líder, valeu sempre a concentração máxima do guarda-redes Miguel e capitão de equipa, que resolveu todos os problemas na sua área de jurisdição, com uma mão cheia de defesas seguras, e uma portentosa, aos 14 minutos, em voo, a travar uma bomba de Nelsinho que levava selo de golo. Da parte do Vilaverdense, excepto dois misseis (ao lado) do médio Hugo, aos 10 e 18 minutos, e pouco mais no ataque na primeira parte. Já o Ninense era mais esclarecido, mas os remates de Nelsinho (14 e 37), Hélder (28) e Cesário (40) foram todos “à figura” do guardião Miguel.

No segundo tempo, o Vilaverdense subiu bastante de produção, acordou finalmente para o jogo, mas não teve vida fácil, porque o Ninense nunca se desorganizou e jogou sempre taco a-taco e de igual para igual.

Mas como quem não marca arrisca-se a sofrer, o Vilaverdense até podia ter ganho o jogo na última jogada do desafio aos 96 minutos numa ‘bicicleta’ do central Alexandre... a rasar o poste!

“Foi um jogo fraco, de muita luta, intenso mas praticamente sem oportunidades de golo. Na segunda parte tentamos reagir, até certo ponto conseguimos, mas realmente a equipa do Ninense surpreendeu-me pela positiva, muito bem organizada, com uma atitude durante os 90 minutos acima da média e que não corresponde nada ao lugar que ocupam na tabela. Aceito este resultado, porque também não fizemos muito mais para merecermos ganhar o jogo”

Nélito (tr. Vilaverdense)

“É mais um ponto, ganho na casa do primeiro classificado que não é qualquer equipa. Mas como disse aos meus jogadores durante a semana não viríamos a Vila Verde meter o autocarro ou o combóio. Tentamos jogar o jogo pelo jogo, e quem viu bem, viu um Ninense personalizado e que quis ganhar. Não fomos inferiores e com um pouco mais de sorte e audácia podíamos ter ganho”

João Salgueiro (tr. Ninense)